sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Mulher de Leão

A mulher de Leão
Brilha na escuridão.
A mulher de Leão, mesmo sem fome
Pega, mata e come.
A mulher de Leão não tem perdão.

As mulheres de Leão
Leoas são.
Poeta, operário, capitão
Cuidado com a mulher de Leão!

São ciumentas e antagônicas
Solares e dominicais
Ígneas, áureas e sardônicas
E muito, muito liberais.

Vinícius de Moraes

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ilustro todos esses toques,
tão peregrinos quando amanhecem!

tuas mãos sibilam as superfícies,
meu humor vacilante,
se dissolve em teu sorriso rarefeito.

aproximo meus pés mornos dos teus,
cruzo os dedos:
do pé.
calcanhares,
diferentes temperaturas,
intrigante.

luz do poste
invande pela fresta,
minha sombra
já brinca com a enxaqueca.

émouvant
coffee smell
te amo.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

RIVAL

Se a lua sorrisse, pareceria com você.
Você também deixa a impressão
De algo lindo, mas aniquilante.
Ambos são bons em roubar luz alheia.
A boca da lua se lamenta ao mundo; a sua não é insensível,

E seu maior dom é fazer tudo virar pedra.
Desperto num mausoléu; você está aqui,
Tamborilando na mesa de mármore, procurando cigarros,
Malicioso como uma mulher, não tão nervoso assim,
E louco pra dizer algo irrespondível.

A lua, também, humilha seus súditos,
Mas de dia ela é ridícula.
Suas insastifações, por outro lado,
Chegam pelo correio com regularidade encantadora,
Brancas e vazias, expansivas como monóxido de carbono.

Nem um dia se passa sem notícias suas,
Passeando pela África, talvez, mas pensando em mim.

Sylvia Plath - Ariel - Tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Lens de Macedo
Poema retirado do livro ganhado com muito amor e cuidado, livro esperado como um filho! Obrigada!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Presente

no tremor interno
das partes que queimam
há um calor que engole tudo
ouve-se um som contínuo
sente-se um abraço forte dado em pleno vácuo
não se sabe onde começa um
onde termina outro
os sentidos se aguçam e se perdem ao mesmo tempo
dormência gostosa, carregada de formigamento
risada em prosa
somos a própria luz tênue
deste presente instante

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

ouvindo mais uma vez beatles...

junto ao barulho da chuva, me recordo, muito. me lembra um trecho:
.
.
Ele teve certeza. Ou claras suspeitas. Que talvez não houvesse lesões, no sentido de perder, mas acúmulos no sentido de somar? Sim sim. Transmutações e não perdas irreparáveis, alices-davis que o tempo levara, mas substituições oportunas, como se fossem mágicas, tão a seu tempo viriam, alices-davis que um tempo novo traria? Não era uma sensação química. Ele não tinha a boca seca nem as pupilas dilatadas. Estava exatamente como era, sem aditivos.
caio fernando abreu-morangosmofados

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

0110090042

.
.
nas marcas invisíveis
sobre o tempo que não findou
enxergo o que ninguém vê
é meu
e não sei onde guardar
somos condenados
a dor é vício
ofício
eu grito:
porque por aí vagam meus olhos de cigana?
também suplico
um caminho mais tranquilo
mas fecho os olhos
escuto aquela melodia
vejo sol de domingo
crianças correndo
sonhos infindáveis
instead
paro por aqui
sei que vou olhar aquela mesma estrela
e perguntar tudo aquilo
pra ver se ela me traz aqueles sons
que antes ela sempre trazia
na época em que a lua me entendia
.
.