terça-feira, 7 de outubro de 2008

É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

(Cecília Meireles)

Um comentário:

Letícia disse...

Vou te contar um segredo. Leio esse poema da Cecília e a única coisa que não consigo fazer é deixar de esquecer. Esqueço de largar o amor que machuca, essa folk music que me engole e assim eu sigo.
Mas o poema é belo.