Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profundezas da tua existência.
Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?
Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.
Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.
Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.
Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.
(Pablo Neruda)
3 comentários:
E o poema fala o que a gente cala. Ferir a mim fere você também. Isso me ocorre às vezes, mas não falo. Deixo que o outro sinta por si mesmo.
E venho com novidade antiga. Mudei de endereço. A mesma coisa só que em outra cor. Venho te avisar porque ao contrário dos Strokes, "I wanna be reminded".
Bjs.
Eis o endereço.
http://leticiapalmeira.blogspot.com/
Que beleza de casa nova, Ana. Já tô entrando pra tomar um café, hein...
beijos
Bárbara
Bonito isso, não? "Não me firas a mim porque te feres". A comunhão trazida pelos sentimentos recíprocos traz junto essa unicidade de almas.
Dá-lhe Neruda!
Beijo, Ana!
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