segunda-feira, 27 de outubro de 2008

são dias em que tudo parece poesia.
a saudade, a novidade, o vento, o sol.
é difícil de acreditar, mas é possível ser feliz.
quando você percebe que pode ser feliz, muito feliz, tudo vale a pena.
nada é pequeno...
a nossa felicidade pode ser eterna, dentro de cada segundo, dentro de cada vida que a gente inventa.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O Poço

Cais, às vezes, afundas

em teu fosso de silêncio,

em teu abismo de orgulhosa cólera,

e mal consegues

voltar, trazendo restos

do que achaste

pelas profundezas da tua existência.

Meu amor, o que encontras

em teu poço fechado?

Algas, pântanos, rochas?

O que vês, de olhos cegos,

rancorosa e ferida?

Não acharás, amor,

no poço em que cais

o que na altura guardo para ti:

um ramo de jasmins todo orvalhado,

um beijo mais profundo que esse abismo.

Não me temas, não caias

de novo em teu rancor.

Sacode a minha palavra que te veio ferir

e deixa que ela voe pela janela aberta.

Ela voltará a ferir-me

sem que tu a dirijas,

porque foi carregada com um instante duro

e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri

se minha boca fere.

Não sou um pastor doce

como em contos de fadas,

mas um lenhador que comparte contigo

terras, vento e espinhos das montanhas.

Dá-me amor, me sorri

e me ajuda a ser bom.

Não te firas em mim, seria inútil,

não me firas a mim porque te feres.


(Pablo Neruda)

sábado, 18 de outubro de 2008

Já dizia Freud...

Somos feitos de carne, mas temos que viver como se fossemos feitos de ferro.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Dom Dele

teus olhos transparecem a aurora
desnudam essa alma
fotografam essas expressões
brincam com meu desejo

eu vivo assim
aconchegada no teu carinho
respirando teus sonhos
pulsando junto com tuas veias

quieta esse peito arredio
conforta essas idéias ansiosas
leva. protege tudo. tens o dom
até teus beijos são poemas

domingo, 12 de outubro de 2008

smoke much

Iluminada pela lua. Eu, fazendo várias perguntas. Tudo parece tão efémero. Esse sentimento é o que me invade nessas horas de silêncio e "solidão". Hoje eu tomei um banho bem gelado de cachoeira, andei no mato, e vi quando o sol se pôs e deu lugar para essa lua linda aparecer. Um descanso na minha loucura. Eu já sei que não adianta nada disso, porque meus pensamentos me perseguem por onde eu vou. Muitas vezes, me encontro sozinha na minha memória. É como se as lembranças fossem só minhas, cada detalhe, eu consigo guardar qualquer mínima expressão. Dias atrás eu comentei como me sentia perdida no tempo, sentada no tapete da sala, eu falava, falava, ria, discursava mais uma vez sobre minhas "teorias" sobre o tempo, a memória, a saudade... eu sei que não sou a única, esse sentimento que parece tão particular, é semelhante ao de alguém por aí nesse mundo tão grande. Mas agora, eu procurava um significado para isso que se passa aqui dentro, no peito. Traz um sorriso bobo, uma expressão de saudade. O cheiro da noite está me fazendo bem, e a lua é tão clara, queria ser tão clara assim, ela me passa tanta força e segurança. Andei conversando com as estrelas ontem a noite, já fazia um bom tempo em que eu não pensava sobre isso, mas ontem foi diferente, e hoje eu consigo me sentir exatamente como eu me sentia há um ano atrás. Será que isso me faz bem? Algo sobrevive, já faz tempo, e com tantas tempestades é mesmo uma sobrevivência, que consegue me fazer mais feliz e mais triste ao mesmo tempo. Será que é possível sentir tanta saudade de tudo? Será que faz bem? Ainda vai rolar muita coisa até o sono bater, mas eu já me sinto bem melhor, relaxada... mas o pensamento está lá, tão longe, na curva do outro pensamento, e do outro, e do outro... Euqueroqueamanheçalogo. Depois desse cigarro, quero respirar a noite mais uma vez, e me lembrar amanhã, que hoje a lua estava linda, e que ela me fez infinitamente bem.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Canção


Não te fies do tempo nem da eternidade,
que as nuvens me puxam pelos vestidos
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
o lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo…
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te digo…

(Cecília Meireles)
Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro.

Jung

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Perdão. Perdão. Perdão. Foi o começo da madrugada. A luz, longe acesa, e o som da televisão da vizinha cantando alguma música antiga. Não parou de pensar um minuto, entre sorrisos desentendidos e frases mal elaboradas, conseguia assimilar muito pouco de tudo o que acontecia na sua frente. É o momento. Tantas cenas repetidas passeando pela memória. Conseguia sentir muita saudade de tudo, nostalgia e pura ansiedade. Seria melhor dormir, mas a cama multiplicava as indagações. Pela sacada, a cidade adormecia... Observando algumas luzes acesas, vários andares, ao longe, já adormeciam, mas alguns ainda persistiam, e talvez também experimentem da sua agonia. Tudo perde o sentido. Tudo fica sem nexo. Tudo que se viveu, o que ainda está porvir... pairo no ar, flutuo no semi-nada. Tudo tão exagerado. Nada de novo. Nada, de novo. Talvez o sono chegue, talvez o amanhã... talvez... talvez... Defeitos. Complicações. Não dá para ouvir Bob Dylan e se embebedar de café várias noites insones e nubladas. Checa-se com cuidado. Pede-se amor. Amor na vida, na poesia, nos livros, na cama, nos cuidados. Dá-se valor. Nessas noites procuro o que sobra de mim. Nada de espelhos. Amanhã eu prometo. Sem perdão.
The answer, my friend, is blowin' in the wind
The answer is blowin' in the wind

terça-feira, 7 de outubro de 2008

sozinha. cheguei do teatro umas 22:00, subi o elevador, entrei no apartamento e logo percebi que estava sozinha. comecei a arrumar tudo, coloquei um som e fui para a cozinha. eu poderia escrever, escrever e escrever... era tanta coisa que passava pela minha cabeça. tanta coisa que eu queria passar para o papel... queria falar sobre meu medo, ventava muito e qualquer barulho me assustava, afinal de contas, depois de tanto tempo, eu estava sozinha. sem telefone, sem computador, e sem nenhuma chance de ligar a televisão. os mesmos livros, os mesmos cd's e o mesmo hábito. é, ontemeudescobriqueaindasintomedo.

É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

(Cecília Meireles)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

o fechar e abrir das portas, quando o sonho termina e a gente acorda. quando eu penso em escrever, esqueço no mesmo instante, é força para dormir e sonhar novamente, o sonho só existe enquanto eu durmo, depois, acordada meu sonho, é minha realidade. me nutre. eu disse que você me nutre, seu amor me nutre, é mais que alimento. vagando nessas horas, até mesmo de olhos abertos, eu vejo muito além desse apartamento. todos esses dias me faz pensar e pensar, planejar. carinho por cada instante, dedicação, predileção por você, amor pela vida. já não me lembro de saudades, e não falo de tristezas. quero tudo demasiado, vivo o instante sem nem saber do que vem depois do depois. fico em mim equilibrada. chove, e repete aqui dentro: você me nutre.

domingo, 5 de outubro de 2008

Interface entre Música e Literatura



> Dirigir o carro, entrevistando o Lirinha, com certeza foi uma experiência maravilhosa! Quem gosta de poesia e Cordel do Fogo Encantado sabe muito bem do que estou falando.

Poetas


Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

(Florbela Espanca)

sábado, 4 de outubro de 2008


Quem sonha tem sempre um sorriso guardado.